A minha candidatura ao CPAM é a comunicação de uma resolução pessoal enquanto profissional liberal de arquitetura. Após um balanço de três anos, percebi que o cliente de arquitetura se aproveita da precariedade e da falta de unidade dos arquitetos. O cliente de arquitetura diz-me com frequência, que há quase quem ofereça o serviço que eu lhes estou a cobrar. Esse cliente de arquitetura já eu aprendi a deixá-lo ir, sem remorsos. Mas não foi fácil. Só depois de muitas “pauladas” resolvi dizer: basta! Mas o cliente de arquitetura não é o inimigo.
O termo “Wanted”, que serve de introdução, pode aqui ser lido de duas formas. Por um lado:
- “Querem-se” arquitetos! Arquitetos que, na apatia da encomenda pública e privada, não se deixam subjugar ao cliente de arquitetura.
- São “Queridos” arquitetos que se saibam valorizar e com isso a arquitetura.
Por outro:
- “Procuram-se” os arquitetos que não se fazendo respeitar, não percebem que estão a ser os seus, os nossos, maiores inimigos!
Querendo e procurando mudanças, passei a olhar para outras profissões e percebi que outros profissionais, a certa altura, souberam valorizar-se e fazer-se respeitar pelos seus clientes. Como? Tornando-se indispensáveis. Não perdem tempo com quem não respeita o seu trabalho. Instauraram uma cultura de pagamento dos seus serviços.
À imagem do “Operário em Construção” de Vinícius Moraes, eu tornei-me um arquiteto em construção. E com isto desenvolvi um manifesto para colocar no meu site profissional, bem como a futura implementação do meu preçário com a instauração do preço das consultas, visível e acessível para os meus futuros clientes.
A partir de agora sei que só me entram no escritório aqueles clientes que são verdadeiramente clientes, ou seja, que sabem que por um serviço pedido existe o retorno da remuneração.
É esta a minha resolução e a qual estou a pôr em prática. Considero que o evento CPAM pode ser um bom local para a poder comunicar aos meus colegas de profissão.
Em baixo deixo uma transcrição de uma parte do texto:
Arquiteto em construção…
O cliente de arquitetura não sabe o que é arquitetura.
Como não sabe o que é arquitetura, não sabe porque precisa do arquiteto.
Como não sabe porque precisa do arquiteto, acha que não precisa do arquiteto.
Como acha que não precisa do arquiteto também não sabe o que faz o arquiteto.
Como não sabe o que o arquiteto faz, também não sabe que serviços presta.
Como não sabe que serviços presta, chega a pensar que o arquiteto não presta.
Ao pensar que o arquiteto não presta, desvaloriza os seus serviços.
Como desvaloriza os seus serviços, o trabalho do arquiteto, para o cliente, vira um risco ou um boneco.
Como o trabalho do arquiteto, para o cliente, vira um risco ou um boneco sente escrúpulo por ter que o pagar.
Escrupulosamente, o que quer pagar ao arquiteto é aquilo que ele acha que o seu trabalho vale.
Assim, mais vale o arquiteto não fazer arquitetura.
Como mais vale o arquiteto não fazer arquitetura, o arquiteto não trabalha.
Como não trabalha tem tempo para pensar.
Ao ter tempo para pensar, pergunta-se porque é que o cliente de arquitetura não sabe o que é arquitetura.
Ao perguntar-se porquê, assume, de seguida, a responsabilidade por não ter sido capaz de apresentar a arquitetura ao cliente.
Ao assumir essa responsabilidade, o arquiteto entende, agora, porque é que o cliente de arquitetura não sabe o que o arquiteto faz.
Ao entender porque é que o cliente de arquitetura não sabe o que o arquiteto faz, o arquiteto aprende uma grande lição.
Uma tão grande lição, não tardará a ser posta em prática.
(…)
Caro cliente de arquitetura o arquiteto está em construção...