2012/06/19

"Inimigo" por Alexandra Areia, 2012

"ARQUITECTURA EM DEBATE - AVEIRO 1979",
colagem de depoimentos.






Um encontro de arquitectos tem sempre aquele ar de encontro de druidas, vindos cada um de seu lado, sem visco nem foice de oiro, mostrar as habilidades. Desta vez mostraram-se projectos e obras, o que é extremamente importante, uma vez que em 69, por estranho que pareça, tal não aconteceu (extremamente pressionados pelas condições sociais e políticas, os arquitectos assumiam-se sobretudo como “cidadãos empenhados”). João Luís Carrilho da Graça| O encontro de Aveiro foi minha primeira experiência significativa de troca amplas de ideias, instruções e orientações entre arquitectos que, sendo portugueses, trabalhando neste pequeno país num período tão rico de acontecimentos e transformações culturais, tão arredados costumam andar uns dos outros, às vezes vizinhos de porta. Domingos Tavares| Precisamos de procurar a nossa identidade cultural e de sítios para isso; encontros onde os conflitos sejam explícitos, onde possamos entender o assustador isolamento, e mexer nele. Madalena Cunha Matos e Luís Costa| “ARQUITECTURA EM DEBATE – AVEIRO 1979”, foi o título proposto para o encontro. Não houve “encontro”, não houve aceitações, não houve soluções. Simplesmente isto: Arquitectura em Debate. Houve arquitectura, tinha que haver. Houve debate, tinha que ser. Resultados: a ver (1). (1) do verbo ver. Eduardo Souto Moura| Parece que era necessário o discurso de alguém nem demasiado experiente nem demasiado inexperiente – mesmo se fingidor ou sobretudo por isso. Que assim são, na realidade, arquitectos, estudantes e toda a gente. Alguém além disso tão preocupado que não se preocupasse. Álvaro Siza Vieira| É pois, necessário multiplicarmos estes encontros, até para que se alcance mais rapidamente, na prática do debate, a essência da disciplina da arquitectura, abandonando progressivamente a afirmação de posições pessoais, que sempre acabam por bloquear uma clarificação de conceitos. João Paciência| Por isso, sinto que temos que fazer encontros destes, não todos os meses, que nos sai caro, rouba tempo e energia. Mas todos os anos que bem que seria. Domingos Tavares|


Aveiro79 em "inimigos": 
“casa do emigrante” [1], “pré-fabricação” [2], “bairros sociais” [3], “expansão dos aglomerados” [4], “a escola de arquitectura” [5], “ausência de critica” [6].

[1] A “casa do emigrante”, sobre a qual muitos arquitectos lançam a sua condenação e se calam. (Madalena Cunha Matos e Luís Costa)
[2] Uma quase recusa (?), por parte de muitos, em discutir os aspectos inerentes à utilização de sistemas industrializados de construção (incluindo a pré-fabricação) que, quer se queira quer não, fazem parte da nossa realidade, sobre a qual temos que intervir. (João Paciência)
[3] Os “bairros sociais” são nódoas identificáveis em qualquer tecido onde caíram. (...) As localizações dos conjuntos ou unidades habitacionais não mais para as periferias como locais para segregar os “bairros sociais”. (...) Não a uma imagem miserabilista de arquitectura de penúria.” (António Marques Miguel)
[4] Os projectos de crescimento (expansão) dos aglomerados são quase sempre ambição de “políticos” e não de desejos/ necessidades dos utentes. (António Marques Miguel)
[5] Na escola (Lisboa) o nosso quotidiano é feio e abafado. Confrontos e cisões. O silêncio e a imposição para nos responderem. (...) Algo vive e está crescendo dentro desse muros, apesar deles.” (Madalena Cunha Matos e Luís Costa)
[6] Do Pós-25 de Abril seria legítimo esperar uma maior fundamentação e consciência crítica, um maior aprofundamento das metodologias de projecto, uma maior e agora já possível exigência de rigor e de definição conceptual. (Pedro Vieira de Almeida)

 
Série de depoimentos publicados na revista Arquitectura, n.º134, «Arquitectura em Debate - Aveiro 1979».