"ARQUITECTURA EM DEBATE - AVEIRO 1979",
colagem de depoimentos.
colagem de depoimentos.
Um
encontro de arquitectos tem sempre aquele ar de encontro de druidas, vindos
cada um de seu lado, sem visco nem foice de oiro, mostrar as habilidades. Desta
vez mostraram-se projectos e obras, o que é extremamente importante, uma vez
que em 69, por estranho que pareça, tal não aconteceu (extremamente
pressionados pelas condições sociais e políticas, os arquitectos assumiam-se
sobretudo como “cidadãos empenhados”). João
Luís Carrilho da Graça| O encontro de Aveiro foi minha primeira experiência
significativa de troca amplas de ideias, instruções e orientações entre
arquitectos que, sendo portugueses, trabalhando neste pequeno país num período
tão rico de acontecimentos e transformações culturais, tão arredados costumam
andar uns dos outros, às vezes vizinhos de porta. Domingos Tavares| Precisamos de procurar a nossa identidade
cultural e de sítios para isso; encontros onde os conflitos sejam explícitos,
onde possamos entender o assustador isolamento, e mexer nele. Madalena Cunha Matos e Luís Costa| “ARQUITECTURA
EM DEBATE – AVEIRO 1979”, foi o título proposto para o encontro. Não houve
“encontro”, não houve aceitações, não houve soluções. Simplesmente isto:
Arquitectura em Debate. Houve arquitectura, tinha que haver. Houve debate,
tinha que ser. Resultados: a ver (1). (1) do verbo ver. Eduardo Souto Moura| Parece que era necessário o discurso de alguém
nem demasiado experiente nem demasiado inexperiente – mesmo se fingidor ou
sobretudo por isso. Que assim são, na realidade, arquitectos, estudantes e toda
a gente. Alguém além disso tão preocupado que não se preocupasse. Álvaro Siza Vieira| É pois, necessário
multiplicarmos estes encontros, até para que se alcance mais rapidamente, na
prática do debate, a essência da disciplina da arquitectura, abandonando progressivamente
a afirmação de posições pessoais, que sempre acabam por bloquear uma
clarificação de conceitos. João
Paciência| Por isso, sinto que temos que fazer encontros destes, não todos
os meses, que nos sai caro, rouba tempo e energia. Mas todos os anos que bem
que seria. Domingos Tavares|
Aveiro79 em "inimigos":
“casa do emigrante” [1], “pré-fabricação” [2], “bairros sociais” [3], “expansão dos aglomerados” [4], “a escola de arquitectura” [5], “ausência de critica” [6].
“casa do emigrante” [1], “pré-fabricação” [2], “bairros sociais” [3], “expansão dos aglomerados” [4], “a escola de arquitectura” [5], “ausência de critica” [6].
[1] A “casa do emigrante”, sobre a qual
muitos arquitectos lançam a sua condenação e se calam. (Madalena
Cunha Matos e Luís Costa)
[2] Uma
quase recusa (?), por parte de muitos, em discutir os aspectos inerentes à
utilização de sistemas industrializados de construção (incluindo a
pré-fabricação) que, quer se queira quer não, fazem parte da nossa realidade,
sobre a qual temos que intervir. (João
Paciência)
[3] Os
“bairros sociais” são nódoas identificáveis em qualquer tecido onde caíram.
(...) As localizações dos conjuntos ou unidades habitacionais não mais para as
periferias como locais para segregar os “bairros sociais”. (...) Não a uma
imagem miserabilista de arquitectura de penúria.” (António
Marques Miguel)
[4] Os
projectos de crescimento (expansão) dos aglomerados são quase sempre ambição de
“políticos” e não de desejos/ necessidades dos utentes. (António
Marques Miguel)
[5] Na
escola (Lisboa) o nosso quotidiano é feio e abafado. Confrontos e cisões. O
silêncio e a imposição para nos responderem. (...) Algo vive e está crescendo
dentro desse muros, apesar deles.” (Madalena
Cunha Matos e Luís Costa)
[6] Do
Pós-25 de Abril seria legítimo esperar uma maior fundamentação e consciência
crítica, um maior aprofundamento das metodologias de projecto, uma maior e
agora já possível exigência de rigor e de definição conceptual. (Pedro
Vieira de Almeida)
Série de depoimentos publicados na revista Arquitectura, n.º134, «Arquitectura em Debate - Aveiro 1979».