2012/06/23

"Inimigo" por André Tavares, 2012

Quem vai à Guerra dá e leva.


Não precisamos de inimigos. Compreendo a nostalgia anacrónica do Michel Toussaint, mas desenganem-se, nunca os arquitectos foram modernos e inteligentes versus reaccionários e estúpidos. A história já nos provou que olhar para o passado dessa forma apaga mais do que mostra: tudo é bastante mais complexo. Já o argumento do Pier Vittorio Aureli é mais atento e partilho com ele essa necessidade de contra-argumentar, de me entender por relação negativa com aquilo que me envolve. Talvez por isso mesmo diga: O quê? Inimigo? O meu inimigo é acreditar que ter um inimigo serve para alguma coisa. Meus caros amigos da Meta, compreendo a história do inimigo (conversámos sobre ela) mas não me convencem. Querem pancada, segue já a primeira estocada. Fogo amigo, diziam? Mas este fogo amigo não adianta a ninguém. Serve só como treino, porque todos sabemos o provérbio: Quem vai à Guerra dá e leva. Por isso, vamos a isso, mas vamos juntos. 
Porque é que eu digo que não precisamos de inimigos? Porque para isso precisávamos de saber o que queríamos, e não sabemos. Sabemos que queremos uma sociedade mais justa, que queremos menos ganância e mais partilha, que queremos, como arquitectos, ter oportunidade de construir, de transformar e de aplicar o nosso saber, hoje. E assim transformar as nossas cidades, a paisagem, a sociedade, em função dessa ambição que temos para existir. E sabemos, ou pelo menos esperamos que o nosso contributo venha a ser positivo e que daqui a uns anos possamos ser mais felizes. Mas? Como é que queremos fazer isso? Desconfio que não sabemos, talvez só se saiba depois de estar feito, isto porque sabemos que queremos fazer. 
Então para que vai servir o CPAM, para além de poder ser uma grande festarola? O que precisamos é de querer. E de sabermos ser capazes de fazer o que queremos. O resto é conversa.
Por isso é que insisto na inoperância do inimigo. Só poderemos ter um inimigo quando tivermos uma posição a defender (que não temos) ou um território para conquistar. Como não temos um território nosso, não podemos fazer frente a ninguém, sob pena de não termos terreno para recuar se a coisa estiver a correr mal. E não temos esse terreno. Não temos uma ideia comum ou um ponto de referência. Partilhamos apenas um certo desespero. Ou será que me engano?
É para isso que pode servir o CPAM (espero). Não para ser mais uma mítica reunião de arquitectos desesperados, mas para entendermos qual o nosso ponto de referência. O inimigo virá depois, naturalmente. Os inimigos, porque somos ambiciosos e o que está mal está no plural, em muitas frentes.