2012/07/16

"Inimigo" por Joana Couceiro, 2012

QUID TUM? [1] 

«Quanto a mim, proclamarei que é arquitecto aquele que, com um método seguro e perfeito, saiba não apenas projectar em teoria, mas também realizar na prática todas as obras que, mediante a deslocação dos pesos e a reunião e conjunção dos corpos, se adaptam da forma mais bela às mais importantes necessidades do homem. Para o conseguir, precisa de dominar e conhecer as melhores e mais importantes disciplinas. Assim, pois, deve ser o arquitecto.

(...) 

Esta é a minha firme convicção: todas as cidades que, desde a mais recuada memória dos homens, caíram sob o domínio do inimigo, em consequência de um cerco, se lhes perguntarmos por quem foram conquistadas e submetidas, elas dirão que foi por um arquitecto, e que facilmente zombaram de um inimigo armado, mas não conseguiram aguentar durante muito tempo a força do engenho com que o arquitecto lhes apertava o cerco, as fortificações gigantescas com que as submergia, o ímpeto dos canhões com que as atormentava. E, pelo contrário, aos sitiados, nunca aconteceu sentirem-se tão seguros como com o auxílio e os estratagemas do arquitecto. Por fim, se recordarmos as expedições passadas, verificaremos certamente que foram alcançadas mais vitórias pelas artes e valor do arquitecto, do que pelo comando e auspícios de qualquer general; e que o inimigo sucumbiu mais vezes ao engenho daquele sem as armas deste, do que à espada deste sem os planos daquele. E o mais importante é que o arquitecto obtém a vitória com um pequeno exército e sem perder vidas.»

Leon Battista Alberti, «Da Arte Edificatória», Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2011, págs. 138, 139, 140. 

[1] Tradução: “E AGORA?”