2012/09/17

“Inimigo” por Rui Furtado e Diogo Seixas Lopes, 2012*

RF: Levei esta semana duas coças monumentais do Paulo Mendes da Rocha. Ideológicas, daquelas de ir para a cama e ficar até às tantas a pensar naquilo. O projecto do Museu dos Coches decorreu durante esta crise e sempre discuti com ele este tipo de questões. Fui acompanhando a evolução do seu raciocínio e transmitindo a minha. O grande tema com que me ataca hoje é o conformismo. Quase que demoniza mais os conformistas que os “inimigos”.

DSL: O “inimigo”, por muito que custe a uma certa correcção política, é um acto de civilização. Temos de identificar um “inimigo” para demarcar a comunidade que queremos construir. A partir daí, há todo o programa de exigência humana que é preciso cumprir. Mas não nos definimos sem um lado contrário.

RF: As coças que levei de Paulo Mendes da Rocha foram nesse sentido. Contra o conformismo. Ele dizia: “isto é assim porque deixas que seja assim.” É preciso ter clareza de ideias que só alguém como ele consegue ter. É evidente que viver no Brasil faz toda a diferença, porque aquilo não está contaminado pelo sistema como isto está.

"Diogo Seixas Lopes entrevista Rui Furtado – O material tem sempre razão", JA 245, Abr/Jun 2012

* (Sugestão de Matilde Seabra)